Foi um movimento, iniciado no final de 1981, liderado por Sócrates, Casagrande, Wladimir, Zé Maria e Zenon, que pregava uma maior participação dos atletas
nas decisões referentes ao departamento de futebol do clube. Com certeza é um dos movimentos político-social mais importantes da história de um clube de futebol no mundo
A Democracia surgiu com a ascensão de Waldemar Pires na presidência do clube, após a saída de Vicente Matheus. A presidência descentralizada de Pires e a presença do sociólogo Adilson Monteiro Alves como gerente de futebol, somadas à articulação política de alguns jogadores daquele elenco permitiram o nascimento de um modelo inédito (e nunca mais repetido) de autogestão no esporte.
A idéia visava unir o elenco e fazer com que ele tivesse o direito de livre expressão para debater sobre decisões dentro e fora de campo.
Todos os funcionários do clube, desde o roupeiro até o presidente, tinham o direito a voto, seja para a contratação ou demissão de um jogador.
O movimento logo ganhou o apoio dos jogadores, liderado por Sócrates, Casagrande, Wladimir, Zé Maria, Zenon e cia.
A ideia ia de encontro ao momento político do país, em plena ditadura militar, que censurava e perseguia movimentos populares que pediam a volta da democracia ao país.
E por isso mesmo não só jogadores do Corinthians apoiavam o movimento, mas figuras importantes da música e da imprensa,
como Rita Lee, Juca Kfouri, Boni, liderados pelo publicitário Washington Olivetto, que assumiu o marketing corinthiano.
Inclusive foi Washington Olivetto, captando uma ideia durante um debate por volta de setembro de 1982, que cunhou o nome que entraria para a história: Democracia Corinthiana.
Claro que nem tudo eram flores. Parte da imprensa criticava fortemente o movimento. O time perdia, lá vinha paulada: "Tá vendo, estão preocupados com assuntos que não são o futebol..."
Isso porque as lideranças do movimento estavam tendo destaque fora de campo por participarem de eventos externos, como os lendários comícios das "Diretas Já".
O maior deles, realizado no dia 16 de abril de 1984 no Vale do Anhangabaú, teve a participação de Adílson Monteiros Alves e dos jogadores Sócrates, Casagrande, Wladimir e Juninho (a camisa
amarela usada nos Comícios ganhou homenagem do Corinthians em 2023, como terceira camisa). Outros personagens ligados ao esporte, como o narrador Osmar Santos, também participaram do evento histórico.
Para saber mais sobre esse movimento histórico do futebol brasileiro, assista ao documentário "Ser Campeão é Detalhe: Democracia Corinthiana":
Dentro de campo, a Democracia trouxe bons frutos ao Parque São Jorge, com o timão se sagrando Bicampeão Paulista.
1982
Foi brilhante a conquista do Paulistão de 1982.
Campeão do primeiro turno, com direito a uma goleada de 5 a 1 sobre o
Palmeiras, o Corinthians fez a final contra o São Paulo, campeão do segundo turno, que buscava o tri.
Final - 1982
No primeiro jogo, realizado no dia 08 de dezembro, vitória alvinegra por 1 a 0, com um belo gol de Sócrates.
Depois, na segunda partida,
realizada no Morumbi no dia 12 de dezembro, outra vez deu Corinthians: 3 a 1,
com dois gols do raçudo Biro-Biro e um de Casagrande, que foi a revelação e
artilheiro do campeonato, com 28 gols.
Era o 18° título paulista da história do clube. E foi uma bela campanha: Em 40 jogos, apenas 6 derrotas.
Com a Democracia em alta, o
Timão resolve se reforçar. Chegam em 1983 o goleiro Leão (que era contra a
Democracia Corintiana), o zagueiro Juninho e o volante Paulinho. A equipe
dirigida por Jorge Vieira e ainda com Sócrates, Casagrande, Zenon, Wladimir,
Eduardo e Biro-Biro, chegou ao seu primeiro bicampeonato após a quebra do
jejum.
Depois de fazer uma boa Primeira Fase, o Timão vai para a Segunda Fase, em um grupo com Santos, Ponte Preta e São Bento de Sorocaba.
Com três vitórias e três empates, o Timão avança para a semifinal, onde enfrentaria o Palmeiras.
Semifinal - 1983
No primeiro jogo, empate em 1 a 1, gol de Sócrates.
No segundo, vitória corintiana por 1 a 0. Mais uma vez o Doutor foi o autor do gol do Timão, que estava em mais uma final e contra o mesmo São Paulo.
Final - 1983
Nas finais, o talento do Dr. sócrates voltou a desequilibrar.
A primeira partida da final
aconteceu no dia 11 de dezembro. O Corinthians venceu por 1 a 0, com gol de
Sócrates aos 33 minutos do 1° tempo.
A segunda partida foi realizada no dia
14 de dezembro. O Corinthians entra em campo com a faixa que entraria para a história: "Ganhar ou perder, mas sempre com Democracia". Era o auge do histórico movimento liderado por Sócrates e Casagrande.
O empate dava o título ao Corinthians. Aos 46 minutos do
segundo tempo, Sócrates marca aquele que seria o da gol da vitória. Isso mesmo:
“seria”, pois um minuto depois o São Paulo empata Marcão. Mas já era tarde
demais. Com o empate, a Democracia conquista o segundo título paulista. E o São Paulo conquistou o "bivice".
Veja o depoimento de
Sócrates, artilheiro de 1983, com 21 gols, sobre o último jogo:
“ Lembro-me que essa final foi muito equilibrada. O
São Paulo tinha um time mais forte que o nosso, mas mesmo assim conseguimos
superá-los. No último minuto, o Zenon fez uma bela jogada e tocou de calcanhar
para eu fazer o gol. Todos já esperavam o final do jogo, quando eles empataram.
Toda decisão é muito marcante. Qualquer
jogador sempre sonha em fazer um gol numa decisão e no último minuto. Comigo
não foi diferente. Foi uma grande emoção.”
Esse foi o último
título da Democracia Corintiana.
Campeão de 1982 Em pé: Solito, Sócrates, Ataliba, Casagrande, Zenon e Biro-Biro;
Agachados: Mauro, Daniel González, Alfinete, Paulinho e Wladimir.
Campeão de 1983 Em pé: Leão, Sócrates, Casagrande, Eduardo, Biro-Biro e Zenon;
Agachados: Mauro, Alfinete, Paulinho, Juninho e Wladimir.
A taça de 82
(Foto: Arquivo Victor Hugo)
A taça de 82 (Taça Rede Globo)
(Foto: Arquivo Victor Hugo)