Corinthians / Jogos Históricos / Fluminense 1 x 1 Corinthians - A Invasão Corinthiana (1976)
Dia 5 de dezembro de 1976.
Corinthians x Fluminense. Semifinal do Campeonato Brasileiro.
O Corinthians, vindo dos 22 anos de jejum de títulos, tinha a chance de chegar à final caso vencesse o Fluminense, clube favorito à vaga e apelidado de "Máquina Tricolor",, pois tinha um timaço: Carlos Alberto Torres, Dorval, Dirceu, liderados pelo ex-alvinegro Roberto Rivellino.
Mais de 70 mil torcedores corintianos foram ao Maracanã prestigiar o time, no que ficou conhecida como "A Invasão Corinthiana". Foi o maior deslocamento de pessoas no mundo por um evento esportivo de todos os tempos.
Para promover a partida, houve um esforço coletivo entre os dois cartolas: Francisco Horta, então presidente do Fluminense, em acordo com Vicente Matheus, trouxe para São Paulo pelos menos 50 mil ingressos, pagos antecipadamente pelo Corinthians. Houve também provocações por parte do presidente do clube carioca (hoje sabemos que essas provocações faziam parte do combinado para atrair o público corinthiano).
No entanto, o presidente das laranjeiras cometeu um erro: menosprezou a fiel. Não acreditou que tantos corinthianos iriam ao Rio. E declarou: "Que os vivos saiam de casa e os mortos saiam das tumbas para torcer pelo Corinthians no Maracanã, porque o Fluminense vai ganhar a partida".
A Fiel saiu. Com suas bandeiras, camisas e o grito de apoio. Com a vontade de suar pelo time nas arquibancadas, de ser o 12º jogador, de estar lá, pelo Corinthians.
A semana anterior ao jogo foi tomada de grande comoção, poucas vezes vistas na história. Grupos de amigos, famílias, pessoas sozinhas... todos tinham o mesmo pensamento: ir ao Rio apoiar o Coringão contra a "Máquina Tricolor", muitos sem ingresso.
E já a partir de sábado a Cidade Maravilhosa foi sendo tomada. Eles chegavam de carro, ônibus, avião e até de bicicleta. Calcula-se que, para isso, foram consumidos mais de 2 mihôes de litros de gasolina. Estima-se que entre 50 e 70 mil corinthianos saíram de São Paulo rumo ao Maracanã. E lá se juntaram ao corinthianos que lá residiam e aos torcedores de outros times rivais do Flu.
O clima era de decisão: jogo pegado, chuva no gramado e o estádio completamente dividido entre as duas torcidas.
Aliás, há controvérsias de que o estádio estava realmente dividido. Muitos relatos dizem que, se nas arquibancadas a divisão era igual, nas cadeiras o Corinthians ocupava pelo menos 2/3, mostrando que a torcida corinthiana pode ter sido maioria naquele domingo histórico, o que era a impressão de boa parte da imprensa.
No total, 169.133 torcedores acompanharam o jogo, sendo o maior público da história do Corinthians.
A entrada do Corinthians em campo fui uma coisa sobrenatural, de arrepiar. Bandeiras, fogos e o grito da fiel fizeram o maior do mundo tremer.
Ver "Curiosidades - Maiores públicos do Corinthians".
Ver "Curiosidades - A Invasão Corinthiana".
Dentro de campo, jogo difícil. No tempo normal, Carlos Alberto Pintinho marcou aos 19 minutos de primeiro tempo. Logo depois, aos 29, Ruço empata para o Timão. A chuva já caía no estádio.
No intervalo da partida, a chuva piorou de tal forma que o gramado ficou todo prejudicado. Houve quem defendeu o adiamento da partida, prontamente refutada por Vicente Matheus: a torcida da Corinthians faz isso e vão adiar o jogo? De jeito nenhum. Claro que ele sabia que o campos naquelas condições era melhor para o Timão, inferior tecnicamente.
E depois de quase meia hora, os times votaram a campo para o segundo tempo. Mas não teve mais jogo. Com o empate ao fim do tempo regulamentar, o jogo foi para a prorrogação, onde também não teve jogo.
Pênaltis
Então vieram os pênaltis. Agora a superioridade carioca não mais existia. Pelo contrário: o fator psicológico era todo do Coringão.
Que abriu o placar com Neca.
Rodrigues Neto bateu e Tobias defendeu, mas o árbitro mandou voltar. Na nova cobrança, Tobias defendeu novamente!
Ruço cobrou e fez 2 x 0 Corinthians!
Carlos Alberto Torres cobrou e Tobias defendeu mais uma!
Moisés fez e deixou o jogo quase decidido.
Mas Durval converteu o primeiro pênalti do Fluminemse.
Coube a Zé Maria converter o seu e pôr números finais a partida: 4 x 1 para o Timão e classificação histórica para a final.
A Fiel vai a loucura no Maracanã. A volta a São Paulo foi festa e alegria! Muitos não foram trabalhar na segunda, esgotados que estavam pela desgastante viagem.
A festa só não foi maior porque o time perdeu a final para o Inter uma semana depois, ao perder por 1 a 0. Ainda não fora daquela vez.
O famoso cronista Nelson Rodrigues, fanático torcedor tricolor, escreveu na sua coluna do jornal O Globo no dia seguinte, 6 de dezembro:
Uma coisa é certa: não se improvisa uma vitória. Vocês entendem?
Uma vitória tem que ser o lento trabalho das gerações.
Até que, lá um dia, acontece a grande vitória. Ainda digo mais: já estava escrito há seis mil anos, que em um certo domingo, de 1976, teríamos um empate.
Sim, quarenta dias antes do Paraíso estava decidida a batalha entre o Fluminense e o Corinthians.
Ninguém sabia, ninguém desconfiava.
O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade.
Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema.
E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela.
Ali, chegavam os corinthianos, aos borbotões.
Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta.
A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia.
Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: — "O Rio é uma cidade ocupada".
Os corinthianos passavam a toda hora e em toda parte.
Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo.
Pois ganha.
Na véspera da partida, a Fiel estava fazendo força em favor do seu time.
Durmo tarde e tive ocasião de testemunhar a vigília da Fiel.
Um amigo me perguntou: “E se o Corinthians perder?”
O Fluminense era mais time.
Portanto, estavam certos, e maravilhosamente certos os corinthianos, quando faziam um prévio carnaval.
Esse carnaval não parou.
De manhã, acordei num clima paulista.
Nas ruas, as pessoas não entendiam e até se assustavam.
Expliquei tudo a uma senhora, gorda e patusca.
Expliquei-lhe que o Tricolor era no final do Brasileiro, o único carioca.
Não cabe aqui falar em técnico.
O que influi e decidiu o jogo foi a torcida.
A torcida empurrou o time para o empate.
A torcida não parou de incitar.
Vocês percebem?
Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca.
Ficha técnica
Corinthians: Tobias, Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Wladimir, Givanildo (Basílio), Ruço e Neca; Vaguinho, Geraldão (Lance) e Romeu. Téc.: Duque
Fluminense: Renato, Rubens Galaxe, Carlos Alberto Torres, Edinho e Rodrigues Neto; Carlos Alberto Pintinho, Cléber (Erivélto) e Rivelino; Gil, Doval e Dirceu. Téc.: Mário Travaglini
Competição: Campeonato Brasileiro de 1976 - Semifinal (jogo único)
Local: Maracanã - Rio de Janeiro (RJ)
Data: 05/12/1976
Árbitro: Saul Mendes (BA)
Público: 146.043
Renda: Cr$ 4.027.250,00
Gols: Carlos ALberto Pintinho (18 - 1º) e Ruço (29 - 1º)
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